Review of Armageddon Time (2022) by Alanpotter17 — 26 Jun 2023

Muito difícil um filme com Anthony Hopkins ser ruim, e este não foge à exceção. Mas o veterano ator faz apenas o avô do personagem principal, uma criança meigamente interpretada por Michael Banks Repeta, o Paul Graff. As cenas em que ambos atuam são chaves para se compreender o conflito interno do garoto.

Ele, pode se dizer assim, é uma criança levada, mas nada que seja completamente fora da média de grande parte das crianças. Vê-se claramente que a escola não está preparada para lidar com alunos que, de certa forma, fogem ao padrão meritocrático que se espera das pessoas. Ele, então, cria uma amizade com o também talentoso Jaylin Webb, um rapaz negro, quando ambos ficam de castigo. A afeição entre os dois é a alma do filme.

Ocorre que Paul é um exímio desenhista, um garoto dedicado às artes. Os pais torcem o nariz para o filho, em especial por ele ter um desempenho a baixo da média esperada. Mas é no avô que ele encontra o apoio necessário, o recanto que lhe dá conforto para continuar desenhando, explorando seus sentimentos, dando vazão à sua sensibilidade.

O roteiro, sem mostrar sutileza, mostra o grau de sufocamento que os pais lhe impõe, atém mesmo pelo fato de serem uma família judia cujo passado é marcado por dores e traumas. Eles precisam mostrar valor, garra, trabalhar com afinco, dedicação. É uma necessidade imposta pelo capitalismo selvagem, sim, mas principalmente pelas suas identidades sociais.

Obviamente, toda essa necessidade é muito mais forte em cima do seu amigo negro, de classe social inferior. Quando ambos são pegos pela polícia, sem uma rede de proteção como a de Paul, cujo pai conhece o delegado, o seu amigo sofre com peso maior as consequências de um país que trata de forma diferenciada as pessoas a julgar pela cor da pele.

A trama é crua, reflexiva. Não há espaço para redenção, e sobram reflexões. Se Paul seguirá seu sonho em tornar-se artista, não sabemos. Apenas ficamos com a sensação de que, sim, é preciso seguir o seu coração, mas até certo ponto. A crueldade da vida é perceber que sonhos não pagam boletos, ou o que é pior, a depender do seu status social, você pode sofrer com a própria liberdade.