Review of Bruiser (2022) by Alanpotter17 — 26 Feb 2023
Miles Warren talvez tenha feito escola com Shyamalan e com Jordan Peele para extrair de ambos o que há de melhor no cinema: a imersão do ambinete retratado, sem deixar de mão um roteiro coeso e certo simbolismo.
Tá certo que "Bruiser" é mais cru do que propriamente imagético, mas a atmosfera criada já impacta na cena inicial, com uma tomada aérea mostrando os corpos masculinos deitados no chão e em um misterioso círculo fechado.
Bruiser centra o roteiro no menino negro que descobre ser adotado, e o filme sabe muito bem qual mensagem quer passar, pois não faz nenhum tipo de drama sobre o fato, não se entrega ao caminho mais simples que porventura poderia enveredar. Não é sobre traumas diretamente ligados à adoção, o que tornaria tudo muito piegas e de fácil solução.
Assim, arriscando falar sobre personalidade masculina, Warren extrai de seus atores o máximo da capacidade de embate psicológico. Enquanto o pai biológico parece ser um homem descolado e mais interessante ao filho adolescente, o pai de criação aparece como a figura racional, ligada a um estoicismo que ficara apenas nas ideias, pois aos poucos o roteiro vai desfazendo a camada de ambos.
É interessante que o triângulo aqui se dê entre 3 homens negros, tendo em vista o que ocorrera com Will Smith e a suposta quebra dos limites a que o racismo estrutural bem está acostumado. E a mão certeira do diretor faz tudo parecer muito natural.
O garoto, um adolescente em formação, se vê obrigado a ter uma figura paterna como espelho para se proteger dos perigos impostos pela sociabilidade comum a qualquer adolescente negro. O pai biológico, com uma vida errante, lhe oferece um tipo de liberdade que, a toda hora, a trilha sonora faz questão de nos manter em alerta. Ao mesmo tempo em que procura se autodefender e aprender técnicas de briga, o filme não poupa esforços para insinuar afetos. A cena em que os dois estão na montanha russa é de uma sutileza e beleza que já vale a conferida por si só.
E à medida que o roteiro vai progredindo, segredos violentos do passado de ambos os pais vão vindo à tona, mas isso não importa mais do que o olhar do garoto, perdido em suas referências, num mundo onde temos todas as referências à palma da mão. Não à toa, quando o pai biológico joga fora o smartphone do filho, ele percebe que, enfim, ele também apresenta perigo, ou não é tão confiável.
Aliás, ninguém é confiável. Nem há referências sólidas. Vivemos num mundo em construção, ao mesmo tempo em que nunca se discutiu tanto as identidades, também nunca se viu tanta identidade fluida assim, como diria Stuart Hall. Filme muito competente, filmado sem pressa, com uma trilha digna, que oferece o que há de melhor (e de pior) para se pensar a masculinidade pós-moderna.
This review of Bruiser (2022) was written by Alanpotter17 on 26 February 2023.
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