Review of Corsage (2022) by Alanpotter17 — 01 Jun 2023
Mesmo com certo tom episódico, e algumas cenas inclusive editadas de forma não linear, temos em "Corsage" uma história filmada com delicadeza sobre a imperatriz Elizabeth da Áustria em sua crise dos 40 anos, tentando libertar-se das convenções sociais e vivendo uma vida mais livre.
Eu particularmente adorava o desenho animado "Sissi", e assistir a essa reconstrução foi uma delícia do início ao fim. Os figurinos elegantes, as contradições de classe, o requinte misturado com o deboche da sua condição estão todos ali muito bem representados. Sem exatamente uma trama a a contar, a câmera vai seguindo Vicky Krieps em sua ótima atuação como imperatriz, sua relação com o marido, o filho e a filha menor, sua relação com a prima, com o professor de hipismo, como há um burburinho a cada aparição pública.
O mais interessante no filme é perceber esse olhar do cotidiano. Vamos vivendo a vida dela e percebendo a crueza e não o glamour típico das monarquias. Assim, o fato de ter contornos episódicos é mais mérito do que desmérito, ainda que falte um fio condutor para a trama, para tornar tudo mais coeso.
A importância que muitos dão a seu comportamento não convencional se choca com a frieza de um roteiro que prefere andar pelo silêncio e pela sombra. São as reprovações da filha, uma criança, por exemplo, que nos chocam. É como se estivéssemos sendo sufocados juntos com a personagem.
Ela então se afugente com o primo ou com umas aulas de cavalo mais tendenciosas, mas sem deixar de lado a feminilidade e graciosidade de uma imperatriz. Ela também visita hospitais e se permite fumar com os doentes, numa clara tendência do roteiro em criar empatia àquela figura aristocrata. O lado bom de tudo isso é que ela sabe de sua posição, não tenta fazer justiça ou lutar contra um sistema. Aliás, ela não é propriamente um ser revolucionário, ao contrário, no máximo uma mulher reformista, à frente do seu tempo sim, mas que opta por acolher todas as regalias recebidas: ela se deixa pintar em telas, usa as roupas de luxo, como bem, preocupa-se com a beleza e com o futuro dos filhos.
Sua condição de pária é, assim, atenuada por sua condição de déspota esclarecida. Preservando sua condição de imperatriz, ela ao menos não se enquadra no típico papel social de sua classe e do seu gênero, fazendo-nos torcer por ela ao mesmo tempo que em nenhum momento sentimos que ela não pertence àquele mundo. E o roteiro ao optar por um final trágico, oscila entre a dramaticidade do ato e o alívio que é, para nós, vê-la tomar aquele rumo antes que endoidasse de vez.
This review of Corsage (2022) was written by Alanpotter17 on 01 June 2023.
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