Review of Guy Ritchie's The Covenant (2023) by Alanpotter17 — 23 Jun 2023

Está sendo um ano particularmente bom para filmes de ação. Considerando que "Fast" X ainda mantem certo fôlego, e a plasticidade vívida de "Extraction 2", Guy Ritchie entrega um filme com roteiro apurado, ótima ambientação e tensão, e contando com muitos tiros e muita câmera tremida para passar sua mensagem, meio condecedente sim ao olhar norte-americano, mas sempre crítico e humano.

Uma lei nos EUA estabeleceu que serviços prestados por nativos do Afeganistão à equipe militar instalada no país em 2001 poderia ter como benefício o visto para o país. Obviamente todos nós sabemos as atrocidades cometidas por Estado comandado pelo talibã, e talvez o único erro do filme seja não aprofundar o quanto o governo norte-americano tem sua parcela de culpa nisso, uma vez que as relações internacionais nas terras do Tio Sam sempre foi para medir forças e aumentar o potencial bélico de países não alinhados à cartilha do FMI.

Mas quer saber? Pondo de lado as discussões geoplíticas (com ressalvas, claro, já que não se pode apartá-las como um todo) o saldo é extremamente positivo. Até mesmo o cuidado com a linguagem, com os personagens principais sendo bem dimensionados e, muito importante, bem interpretados, fez com que todo o saldo soasse muito positivo.

Ao conduzir sua tropa com um nativo afegão que cumpre o papel de ser intérprete em suas missões para localizar explosivos, o sargento John Kinley se vê numa emboscada, onde perde quase todos os seus homens.

A cena em que são encurraladas mostra a exata dimensão do medo, com alvos desconhecidos e vindo de lugares inesperados. Algumas cenas antes, entretanto, é necessário dizer que a lealdade do intérprete Ahmed fora posta à prova, sendo muito bem sucedida. Então, o intérprete e o sargento ficam sós numa área desértica dominada pelo talibã, e aqui realmente pensei que o filme fosse descambar para o modo "Rambo", mas não é bem assim. Claro que há muita complacência do roteiro, mas as emoções vividas ali e o suspense criado ficaram excelentes, provando o heroísmo individual como fórmula certeira de se fazer cinema.

Contudo, o filme de Rithcie abre espaço para se discutir a diplomacia nos tempos de guerra e o quanto a burocracia e o aparelho de estado está acima dos indivíduos. John Kinley é salvo, ganha condecorações, tem um certo prestígio, mas se vê acuado, sem honra, pois seu amigo intérprete não teve o mesmo sucesso que ele, tendo que viver às escondidas no Afeganistão. Cabe ao roteiro conduzir o filme para o seu final previsível, claro, mas feito com muita competência.

Embora o roteiro seja esquemático, é baseado em números reais. Desde que saiu do Afeganistão em 2021, tem ocorrido perseguições a pessoas e suas famílias que prestaram algum tipo de serviço aos EUA. A brutalidade da guerra, seus efeitos psicológicos, são todos muito reais. A sequência em que mostra o sargento relembrando em flash tudo o que vivera é demasiadamente bem construída.

Assim, contando com interpretações excelentes e humanas, temos um exemplar de filme de ação que está acima da média, entregando uma história rica tecnicamente, mesmo com um roteiro básico, mas bem amarrado. Como eu queria ver um filme tão divertido quanto "Fast X", com cenas de ação filmadas feito "Extraction 2" e com um roteiro lapidado e humano assim como este "The covenant". Seria certamente uma obra-prima.