Review of Hellraiser (2022) by Alanpotter17 — 15 Jun 2023

A releitura de um clássico precisa de muito esforço para se justificar, de modo a não passar a sensação de caça níquel comum às revisitações. Infelizmente não é o caso, e o que é pior, bota vários clichês do gênero e consegue, nas horas mais tensas, arrancar gargalhadas involuntárias.

O roteiro é esquemático demais para ser levado a sério, então esperava no mínimo que as fortes fossem mais bem elaboradas, como na franquia Pânico ou Premonição. O filme até inicia bem, mantendo o ar de mistério que paira o casarão de Voight, seu fascínio por atrair vítimas inocentes e ver o sacrifício delas.

Obviamente que as vítimas aqui são todas jovens, deslocadas, bonitas, há espaço até mesmo para um casal gay, o que aliás é um ponto super positivo aqui, por encarar com naturalidade os personagens, sem espaço para discursos de aceitação.

Mas o prólogo só serviu como aperitivo, o filme avança seis anos para focar numa jovem desajustada que vive com o irmão gay, ambos com conflitos de convivência pelo fato dela ainda estar procurando seu lugar ao sol. Com um namoradinho (também bonito e padrão), a jovem em poucos minutos já está om o objeto maligno, uma mistura de box apavorante com cubo mágico, que possui várias configurações até sair de forma rápida uma lâmina de um de seus lados, cortando a mão das vítimas, com sede do sangue delas. A vítima então parece ir para um universo obscuro e maligno, sofrendo mortes com correntes, de forma meio que fetichizada. Não adianta nem se perguntar de onde vem o cenário das mortes, é como se a cidade ficasse num imenso teatro sadomasoquista e do nada, atrás de um poste ou de uma árvore, ou de um brinquedo ou banheiro do parque, saíssem as maldições que iriam conferir à vítima a execução fatal.

Mas tudo não passa de perfumaria para levar os protagonistas à mansão e dali reverberarem os embates contra o mal que, afinal, eles nunca sabem combater. E o roteiro consegue chamar o espectador de bobo diversas vezes, quando, por exemplo, eles escapam da mansão de carro, seguem por uma estrada deserta onde coisas bizarras acontecem e voltam advinhem para onde? Sim, para a mesma mansão que escaparam!

Então prepare-se para ver tudo muito esquemático e robotizado, algumas reviravoltas até interessantes, mas nada que faça apagar o apelo genérico que o filme carrega, com efeitos visuais no mínimo estranho (a cena em que um dos personagens é preso às correntes e seu corpo é puxada com tensões externas até ser rasgado, ficou digna de um pastelão).

Ao menos os personagens são carismáticos, lembra aquele ar dos anos 1980/1990 com personagens jovens, lindos e muito simpáticos, o que pode garantir o interesse até o final.