Review of Talk to Me (2023) by Alanpotter17 — 18 Aug 2023

Cinematograficamente falando, "Fale comigo" tem elementos de sobra para ser visto com grandes méritos. O início conta com uma edição esperta, que vai direto ao ponto, e ainda assim consegue criar a tensão necessária para se envolver (tapa na cara de quem acha que ambientação tem a ver com um filme arrastado). E ainda dialoga com os jovens de maneira a não tratá-los como idiotas.

Aliás, reforço aqui a edição, a cena em que vários dos adolescentes experimentam tocar "a mão", que é quando são possuídos e têm visões de pessoas mortas, foi muito bem construída tecnicamente, mostrou o que deveria mostrar, a banalização do ato numa espécie de catarse coletiva.

Nesta primeira parte do filme, ao explorar um sentimento coletivo de jovens que canalizam suas frustrações e esperanças a um objeto do além, capta muito bem o estado atual da adolescência, desamparada em suas aspirações pessoais e sociais, ainda que lotadas de informações a um palmo de suas mãos.

É como se o sobrenatural fosse apenas um canal para discutir, em tons psicanalíticos, seus traumas, ou mesmo o narcisismo inerente a suas formas de aceitação tribal. Lembrei dos filmes do Linklater que conseguem quase sempre alcançar esse espírito de época.

Ainda assim, na metade seguinte o roteiro joga por terra a edição inteligente e se concentra no drama pessoal de uma jovem com sua mãe morta, inserindo mais dois irmãos, sendo um rapaz jovem e sua amiga, e ainda o namorado da sua amiga. Ou seja, aquilo que era mais coletivo, precisou ser enxuto a um caso mais particular, com os demais personagens sendo posto ao limbo.

Mas o que mais me ressenti não foi pela mudança de foco, mesmo porque o enredo tem seus tons interessantes, mas o fato de que o clima claustrofóbico cedeu lugar a uma projeção genérica e muitas vezes burocrática. Por mais que o final seja interessante e mostre o círculo vicioso do evento, ou seja, sem fazer concessões, não deixa de soar típico demais. os sustos diminuem, o impacto diminui, e tudo flui para que o filme termine sem uma grande sensação de impacto. Ou fui eu que fui com mais expectativa do que poderia.

Mas não é um filme ruim, longe disso. Ainda prefiro "X" ou "Pearl", ou o excelente "Morte, morte e morte". Esse aqui acabou sendo tragado por conflitos individuais que tocaram mais para o drama do que para o horror em si, mesmo que ainda assim seja uma boa sessão de entretenimento.