Review of White Noise (2022) by Alanpotter17 — 01 Jan 2023

Adam Driver e Baumbach já mostraram extrema competência em "Histórias de um casamento", sendo inclusive reconhecido pelo Oscar. Aqui, ambos se encontraram mais maduros para irem além das peças referentes a relacionamentos.

Temos um núcleo familiar com um casal de quatro filhos, num filme que se passa ainda na primeira metade do século XX, no pós-guerra. Driver faz um professor universitário especialista em Hitler, discutindo problemas modernos como a massificação, a idolatria política, a influência dos meios de comunicação, num paralelo que serve tanto para o período retratado, baseado no começo do uso da televisão, quanto para o período atual do século XXI, dominado pelas redes sociais.

A cena em que Driver aparece numa aula do seu colega de faculdade que estava falando sobre Elvis é simplesmente genial. Os dois vão mesclando as falas, sobre Elvis e sobre Hitler, de forma tão visceral, que o filme deixa clara suas intenções mais humanas, demonstrando nossa fragilidade e necessidade de continuar perseguindo uma mitologia, seja ela religiosa, artística ou de personagens políticos.

Ao longo do filme, essa necessidade humana vai ganhando contornos mais densos, como por exemplo os aspectos psicológicos, com o nascimento das sociedades mais ansiosas, ou mesmo com a intensificação do medo, já que planejar o futuro se torna um imperativo do capitalismo (e uma definição do socialismo, ou seja, algo inescapável). Esse tema influencia a sua família, até ao ponto de ocorrer uma tragédia química e aí explodir de vez um delírio coletivo.

É interessante que o filme retoma uma série de autorreferências, por exemplo, no começo do filme se fala que os filmes de hollywood exploravam cenas de explosão, e é precisamente isso que ocorre lá pela metade do filme para desencadear a nuvem tóxica que se alastra sobre a cidade. Mas o filme não é sofre catástrofes naturais, e sim sobre como nossos pensamentos vão sendo afetados pelo avanço do conhecimento, cuja ciência vivia o seu auge de criatividade, mas também de destruição, e de como o medo permeia tudo isso.

Aos poucos o filme vai focando na relação do casal, em pílulas psicóticas, em segredos escondidos. Não sabemos se o amor é a redenção para um mundo em transformação, mas pelo menos é um alívio, um ruído branco misturado aos caos urbano que as grandes cidades viraram. Filmaço.